Fui ativista estudantil (1967/68). Militante clandestino (1969/70). Preso político (1970/71). Tenho travado o bom combate, lutando por um Brasil mais justo, defendendo os direitos humanos, combatendo o autoritarismo.

Sou jornalista desde 1972. Crítico de música e de cinema. Cronista. Poeta. Escritor. Blogueiro.

Tentei e não consegui eleger-me vereador em São Paulo. Mas, orgulho-me de ter feito uma campanha fiel aos objetivos nortearam toda a minha vida adulta: a construção de uma sociedade igualitária e livre, tendo como prioridades máximas o bem comum e a felicidade dos seres humanos.

Em que a exploração do homem pelo homem seja substituída pela cooperação solidária do homem com os outros homens. Em que sejam finalmente concretizados os ideais mais generosos e nobres que a humanidade vem acalentando através dos tempos: justiça social e liberdade.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

CINZAS EM SETEMBRO

No finalzinho de 2003 fiquei desempregado e sem carro. Levei cinco anos para voltar a ter um --exatamente quando a minha caçula nascia. 

Aliás, foi só depois de trazer ambas para casa que eu pude ir retirá-lo na concessionário. Tardaram as burocratices e acabei saindo de lá com noite fechada e chovendo a cântaros.

Não conhecia direito os controles, o vidro embaçava e eu apanhava dos caminhos da região. Estava destreinado. Foi um pesadelo. Mas cheguei inteiro.

Logo fui pegando o jeito de novo. Quem é do mar não enjoa.

Mas, se a quarentena me fizera bem --estava mais cuidadoso e paciente--, a piora coletiva dos motoristas era chocante. E veio intensificando-se ano a ano desde então.

A impressão que me dá é de pessoas estressadas no limite extremo, correndo riscos imensos para lucrar míseros segundos, querendo afirmar-se umas sobre as outras, cada vez mais incapazes de perceber o quadro geral: fazem impulsivamente o que lhes convêm e danem-se os demais, se não conseguirem brecar em tempo!

Afora as motos que surgem do nada e ultrapassam pela direita sem sequer darem uma buzinada de aviso.

Desde que retomei o volante, quantos desastres evitei, quantos motoristas e motoqueiros preservei de pagarem caro por suas imprudências? Perdi a conta.  

E basta rodar alguns quilômetros para constatar o quanto todos perdem em função do seu egoísmo e irracionalidade. Com um pouco de bom senso e espírito cooperativo, não só se livrariam de ferimentos e danos, como se estressariam muito menos e até ganhariam... tempo! O tempo que tentam lucrar fechando os outros e forçando a barra às raias da insanidade.

Afinal, por que tanta ansiedade? Desde quando o tempo é tão importante a ponto de justificar riscos de vida?

Passa a ser quando todos trabalham muito mais do que deveriam e, ainda assim, estão sempre em atraso com algo, não podendo fazer tudo que deveriam nem tão bem quanto poderiam.

É o retrato do capitalismo: o sacrifício inútil. Pessoas enfartando porque lhes foram incutidas as prioridades erradas e não as ousaram questionar. E o trabalho se tornando cada vez mais deprimente e aviltado, dele hoje não se extrai prazer nem perfazimento, sentimento de realização. 

A política convencional passa longe desses problemas. Uma nova ainda está em gestação. E o resultado é esse imenso desalento que impregna a eleição atual, com as pessoas comuns votando em quem lhe oferece alguma vantagem e as melhores tão céticas que nem se animam mais a buscar alternativas.

"E no entanto, é preciso cantar, é preciso cantar e alegrar a cidade", como bem disse o poetinha Vinícius de Moraes, numa outra 4ª feira de cinzas, quando ingenuamente acreditávamos que seria bem mais fácil trazer de volta o carnaval.

O desafio continua diante de nós. E, na eleição ou fora dela, temos de encontrar forças para reagir. Pensamos que 1985 seria o recomeço, mas foi só troca da guarda, saíram os de farda e seu lugar foi imediatamente ocupado pelos de terno. Aqueles marrom-pútrido que se ocultavam por trás dos verde-oliva.

Temos de empurrar a pedra de novo para o topo da montanha. Quiçá a música nos inspire!
"A tristeza que a gente tem, qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir, voltou a esperança
É o povo que dança, contente da vida feliz a cantar
Porque são tão tantas coisas azuis, há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar que a gente nem sabe
Quem me dera viver pra ver e brincar outros carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz" 

Nenhum comentário:

Postar um comentário