Atualmente,
debocha dos defensores de direitos humanos e oferece suas páginas aos
genocidas militares aposentados. O jornal insulta e usa palavras como
terrorista
para quem não é nem foi. Além disso, enfatiza todos os fatos negativos
que encontra sobre o caso Battisti, mas omite os fatos positivos
apresentados por fontes fidedignas.
Em
19 de janeiro de 2009, o jornal ofereceu seu melhor espaço ao
magistrado italiano Armando Spataro, que contou uma versão dos
fatos mais iníqua que a dos autos italianos.
A
Folha.com
(versão eletrônica do jornal) deu apoio 'implícito' aos vingadores,
como Alberto Torregiani, o filho do ourives, cujas opiniões receberam
ampla difusão (
3), muitas das quais a seção latino-americana da Ansa teve o pudor de não publicar. Entre janeiro de 2009 e fevereiro de 2010, a
Folha.com divulgou quinze das 'reflexões' do jovem Torregiani.
...O
jornal cometeu alguns 'erros' de tradução. Durante uma fala da
escritora Fred Vargas, na edição de 2 de fevereiro de 2009, a
Folha On line traduziu a expressão 'militants de gauche' (
militantes de esquerda), usada pela romancista, com um termo 'um pouco' diferente:
terroristas. Já não se fazem tradutores como antigamente!
...A
Folha,
como outros órgãos fraternos, ficou furiosa quando, em 8 de junho de
2011, Battisti foi solto pelo STF. Mas o esforçado jornal não desprezou
as novas chances de tumulto.
Uma delas foi uma
reportagem humilhante de Battisti, que um repórter do jornal conseguiu
flagrar aproveitando-se de seu parentesco com a pessoa que gentilmente
hospedava o escritor (
4).
Outra foi uma notícia inventada, segundo a qual o lançamento do último livro de Battisti,
Ao pé do muro, que seria apresentado em São Paulo, havia sido cancelado
sine die pelo próprio escritor.
A
Folha impressa usou seus espaços mais caros e até duas matérias editoriais (
5)
para publicar compactos libelos contra o refúgio de Battisti, a favor
de sua extradição e contra qualquer 'bastardo' que sugerisse que o
linchado era inocente.
O FEDOR NAUSEABUNDO DA MARGINAL PINHEIROS
O semanário
Veja,
do grupo Abril, vende cerca de um milhão de exemplares às classes média
e alta e veicula matérias com poucos dados e muito comentário. O
magazine combate os movimentos sociais e étnicos, os grupos de direitos
humanos, os apoiadores do ensino popular e outros similares.
Também
estimula o linchamento em geral, ridiculariza as garantias jurídicas e
ovaciona os grupos de extermínio da polícia. Alguns de seus colunistas
têm traços psiquiatricamente disfuncionais, um fato que é infrequente na
mídia escrita brasileira.
O magazine é especialista
em 'surpresas', como notícias sobre corrupção e conspirações baseadas em
dossiês não verificáveis. Uma amostra da laia de seu pessoal foi a
tentativa de um jornalista de invadir o quarto de um ex-ministro num
hotel. Chama a atenção sua extrema agressividade contra seus inimigos,
usando termos injuriosos ou ridicularizando formas de comportamento,
atividades profissionais, vida privada e até deficiências pessoais.
Um blogueiro da versão eletrônica da
Veja, Augusto Nunes, edita a seção
Sanatório Geral, onde 'interna' seus desafetos (
6),
como se as doenças mentais, caso existissem, fossem motivo de chacota.
Em novembro de 2009, publicou sarcasmos contra a defesa de Battisti pelo
senador Eduardo Suplicy, estimulando leitores anônimos que escreveram
comentários irreproduzíveis. Um deles propôs atacar o parlamentar
fisicamente quando andava pela rua.
PECADO CAPITAL DA CARTA: PERSEGUIR A ESQUERDA AUTÊNTICA
Carta Capital é um
semanário com cerca de 90 mil exemplares que, desde 1994 até o começo do
caso Battisti, foi elogiado por leitores jovens que “não eram de
esquerda e não sabiam”.
Seu fundador foi o italiano Demétrio Carta, dito
Mino.
A
Carta
defende um estado nacionalista modernizante, gerido por uma espécie de
aliança de classes com hegemonia empresarial, e antagoniza o
imperialismo americano e os capitalistas ligados a ele. Parece
ideologicamente afim com o ex-comunismo italiano (
7)
e apoia o PT no Brasil. Quem conhece o jornalismo latino-americano vai
achar sua posição muito semelhante à do conhecido comunicador argentino
Jacobo Timerman (1923-1999).
A
Carta
foi o segundo veículo mais empenhado numa intensa campanha contra
Battisti. A revista despejou ataques sem pausa em todos os seus números
durante vários meses. Eles iam contra os políticos que apoiavam o
italiano, os advogados da defesa, os movimentos de solidariedade, os
juristas progressistas, as organizações humanitárias e os escritores
franceses, especialmente Fred Vargas. Além de rixas pessoais e desafetos
ideológicos, os textos mostravam velhos rancores da Itália dos anos
1970, e até de conflitos europeus, como o tradicional desconforto dos
italianos com os franceses.
Essa campanha foi marcada
por exageros e críticas fora de contexto, mas também por alguns dados
inventados. Várias matérias atribuíram a grupos afins aos PAC delitos de
homicídio (p. ex., o do delator Guido Rossa), cujos autores, segundo os
próprios italianos, eram das Brigadas Vermelhas. Alguns artigos
escrutaram a vida pregressa e privada de Battisti em fatos alheios à
política. O ímpeto foi tão forte que chegaram a criticar a obra literária
de Fred Vargas.
O colunista mais qualificado, Walter
F. Maierovitch, disse que, sendo Fred Vargas uma romancista, o que se
poderia esperar dela eram dados romanceados, desprezando o fato de que
ela é premiada pesquisadora em história e arqueologia.
Maierovitch
é o mais inteligente desse grupo, como demonstrou, em 14 de outubro de
2011, ao declarar, com visível amargura, que a provocação do procurador
federal em Brasília, Hélio Heringer, pedindo a anulação do visto de
Battisti e sua deportação a um terceiro país, era 'lamentavelmente'
inviável.