Fui ativista estudantil (1967/68). Militante clandestino (1969/70). Preso político (1970/71). Tenho travado o bom combate, lutando por um Brasil mais justo, defendendo os direitos humanos, combatendo o autoritarismo.

Sou jornalista desde 1972. Crítico de música e de cinema. Cronista. Poeta. Escritor. Blogueiro.

Tentei e não consegui eleger-me vereador em São Paulo. Mas, orgulho-me de ter feito uma campanha fiel aos objetivos nortearam toda a minha vida adulta: a construção de uma sociedade igualitária e livre, tendo como prioridades máximas o bem comum e a felicidade dos seres humanos.

Em que a exploração do homem pelo homem seja substituída pela cooperação solidária do homem com os outros homens. Em que sejam finalmente concretizados os ideais mais generosos e nobres que a humanidade vem acalentando através dos tempos: justiça social e liberdade.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

JÁ COMEÇOU A CAMPANHA DE DESQUALIFICAÇÃO DA MARINA

Emir Sader é um sociólogo petista que se apresenta também como cientista político. Fez, claro, um doutorado que lhe dá o direito de portar título tão pomposo, mas eu acho graça em atribuir-se cientificidade à política. 

Para entendermos os lances atuais da nossa política e dos nossos políticos profissionais, melhor instrumental nos dão Freud e Agatha Christie. Para explicar-nos os episódios do passado, bastam os historiadores. E, sem possuir estatísticas a respeito (alguém as tem?), suspeito que a taxa de acerto dos prognósticos de cientistas políticos seja inferior à de cartomantes, tarólogos e jogadores de búzios. 

O certo é que não vi ciência nenhuma na análise de Sader a respeito da candidatura de Marina Silva à Presidência da República, apenas wishful thinking de quem a teme e, desde já, a combate. Começando pelo título: A direita quer que Marina seja sua tábua de salvação (acesse o artigo clicando aqui).

Ou seja, é preciso martelar na cabeça do eleitorado de esquerda uma inexistente associação entre Marina e a direita, para favorecer a candidata que, como presidenta da República, jamais peitou pra valer o grande capital, o agronegócio, os bancos, os picaretas que exploram a fé e os militares que debocham da Comissão da Verdade, entre outros. E que nem sequer teve a coragem de dar asilo a Edward Snowden, mostrando ser uma criatura bem pior do que o criador, pois Lula não virou as costas a Cesare Battisti.

Para preservar sua respeitabilidade acadêmica, lá pelas tantas Sader coloca esta ressalva, seguida de mais veneno:
"Plenamente dispostos (?) a enterrar definitivamente ao (?) debilitado Aecio, a(?) vozes  da direita se excitam, entre frenesi e angustia de perder essa oportunidade. Não importa se Marina não é uma pessoa confiável. Que pode assustar os empresários do agronegócio. Que tenha suas manias ecológicas. O que importa é tirar o PT do governo. Depois a gente vê. Se ela  chegar a ganhar, vai precisar do apoio parlamentar e dos governadores tucanos, vai precisar da mídia. Se dá uns apertões e ela vai ceder, até porque não tem apoio próprio".
Erros de concordância e de regência à parte, o certo é que Marina bate de frente, sim, com o capitalismo. E exatamente no que ele tem de mais terrível e ameaçador nos dias atuais: o fato de estar simplesmente encaminhando a espécie humana para a extinção. 

Marina merece ser tratada com respeito, sem jogo sujo.
Se danosa ao extremo é a exploração do homem pelo homem e se deveríamos chorar lágrimas de sangue por continuar havendo tanta miséria e sofrimento inútil quando já estão dadas as condições para todos os seres humanos disporem do necessário para uma sobrevivência digna, é no front ecológico que se trava a batalha primordial do momento. Ou desarmamos a armadilha em tempo, ou poderá não existir século 22. 

Precisamos mudar radicalmente a sociedade em que vivemos, mas a prioridade primeira é assegurarmos que vá haver um amanhã, caso contrário todo o resto será inútil. Simples assim. E Marina, com "suas manias ecológicas", está bem no centro desta discussão, a mais importante para a humanidade quando já se vislumbra o Leviatã no horizonte.

Quanto à base parlamentar para garantir a tal da governabilidade, é engraçado o Sader tocar neste assunto, se lembrarmos que foi ela o motivo de o PT haver traído tantos princípios, incorrido em práticas tão condenáveis e colado sua imagem à de figuras execráveis como Paulo Maluf, José Sarney, Fernando Collor, Renan Calheiros, Jader Barbalho, ACM e que tais.

Marina é uma incógnita e Dilma, a certeza de que tudo permanecerá como dantes no quartel de Abrantes. Terá a acriana disposição e garra para, eleita, lutar verdadeiramente contra a podridão política, ao invés de a ela se adequar, ainda que a contragosto e cedendo a chantagens, como o PT tem feito desde 2002? Honestamente, não dá para sabermos agora.

Futrica de Sader: candidatura de Marina conviria à direita.
Assim como Sader não tem como saber se bastam "uns apertões e ela vai ceder, até porque não tem apoio próprio" -a opinião que ele atribui aos direitistas mas, no fundo, no fundo, quer mesmo é plantar na cabeça dos seus leitores. Os incautos podem passar batidos por tais sutilezas, mas não um jornalista veterano como eu.

Enfim, sugerir que adversários pertencentes ao campo da esquerda estariam sendo circunstancialmente úteis para a direita, sem exibir evidência nenhuma de anuência da parte deles, é apenas futrica -cujo arsenal, segundo Sader, já estava quase esgotado do lado da direita, mas parece ser inesgotável nos arraiais de certa esquerda que nada aprendeu nem esqueceu desde o stalinismo.

Por último, como sou um mero comunicador e não almejo à respeitabilidade acadêmica, vou fazer um paralelo futebolístico. Depois de o grande goleiro do tricolor paulista, falhando três vezes, propiciar nova desclassificação de sua equipe, o comentarista Juca Kfouri aconselhou-lhe a aposentadoria: "Rogério Ceni precisa escolher se gosta mais do São Paulo ou de si mesmo".

O PT também precisa decidir se gosta tanto de si mesmo a ponto de colocar em risco a permanência da esquerda no Palácio do Planalto. Pois só não vê quem não quer que, num 2º turno entre Dilma e Aécio Neves, o PSDB terá suas chances muito aumentadas em função do desgaste acumulado pelo situacionismo em três governos sucessivos, do desempenho pífio da economia brasileira e do desencanto que todos percebemos existir e já pipoca nas ruas faz mais de um ano.

Enquanto isto, a carismática Marina, personificando a mudança e trazendo esperança, tiraria a escada de Aécio (o antipetismo), deixando-o pendurado na brocha.

É algo em que os petistas deveriam pensar, antes de utilizarem contra uma adversária métodos que pegam mal até mesmo quando usados contra os inimigos.

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