Fui ativista estudantil (1967/68). Militante clandestino (1969/70). Preso político (1970/71). Tenho travado o bom combate, lutando por um Brasil mais justo, defendendo os direitos humanos, combatendo o autoritarismo.

Sou jornalista desde 1972. Crítico de música e de cinema. Cronista. Poeta. Escritor. Blogueiro.

Tentei e não consegui eleger-me vereador em São Paulo. Mas, orgulho-me de ter feito uma campanha fiel aos objetivos nortearam toda a minha vida adulta: a construção de uma sociedade igualitária e livre, tendo como prioridades máximas o bem comum e a felicidade dos seres humanos.

Em que a exploração do homem pelo homem seja substituída pela cooperação solidária do homem com os outros homens. Em que sejam finalmente concretizados os ideais mais generosos e nobres que a humanidade vem acalentando através dos tempos: justiça social e liberdade.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

ABANDONADOS OS PRINCÍPIOS ÉTICOS E AS BANDEIRAS IDEOLÓGICAS, A DEGRINGOLA NÃO TEM FIM.

Poderia ter havido uma séria crise institucional, um conflito de Poderes, caso o Senado questionasse a controversa interpretação que o Supremo Tribunal Federal deu à Constituição para justificar a primeira detenção no Brasil de um senador em exercício. 

Mas, tão acachapantes eram o áudio/transcrições da proposta indecente e do plano de fuga, trombeteados exaustivamente pela mídia, que poucos parlamentares ousaram desfraldar a bandeira da incolumidade do Legislativo. 

O que o eleitorado pensaria de quem o fizesse? Decerto concluiria que tinha igualmente o rabo preso com a corrupção... [Que estranho período vivemos: alguém desperta como um dos homens mais poderosos da República e adormece como um pária encarcerado!]
Delcídio do Amaral: de figurão a pária em 12 horas.

Também o presidente do PT, Rui Falcão, deu uma solene banana para o líder do governo no Senado, afirmando que o partido não estava obrigado a manifestar solidariedade a Delcídio do Amaral, pois "nenhuma das tratativas atribuídas ao senador tem qualquer relação com sua atividade partidária, seja como parlamentar ou como simples filiado".

Como os dirigentes petistas se preparam para expulsar o pária na semana que vem, deduz-se que, apesar da ressalva retórica, Falcão considera ponto pacífico a existência das "tratativas atribuídas ao senador", caso contrário estaria cometendo uma enorme injustiça ao abandoná-lo às feras e articular sua expulsão.

Só faltou comunicar seu entendimento à bancada do PT no Senado, que pagou o mico de ser responsável por 9 dos 13 votos contrários à decisão do STF (os favoráveis foram 59). Estranha solidariedade a deles, para com um colega acusado de participar da roubalheira de dinheiro público e que se aliou a um banqueiro numa tentativa mafiosa de afrontarem a Justiça, tirando das grades e do País um corrupto confesso! Registro o nome dos dois únicos senadores petistas que honraram seus mandatos: Paulo Paim e Walter Pinheiro. E concedo o benefício da dúvida à ausente Fátima Bezerra.
André Esteves (no momento da chegada da polícia?)

Aliás, o aspecto que mais me choca no episódio é exatamente este, o da promiscuidade com banqueiros, que parece ter-se tornado marca registrada do PT.

Ora é Dilma Rousseff que convida o presidente do Bradesco para ministro da Economia, aceita que este mande um subalterno insignificante no seu lugar e o mantém no posto contra tudo e contra todos (inclusive Lula), mesmo depois de ficar mais do que evidenciada sua incompetência e seu retumbante fracasso.

Ora é a adoção de medidas econômicas que impõem terríveis ônus aos excluídos, trabalhadores e classe média, significativos ônus à indústria e comércio, alguns ônus à agricultura, mas ônus nenhum ao capital financeiro, que surfa e até lucra com a recessão.

E agora um banqueiro aparece ao lado de um grão petista não só no envolvimento com crimes do colarinho branco como o mensalão ou  petrolão, mas também num esquema de bandidagem pura e simples. Como disse o jornalista Vinícius Torres Freire, "falta apenas alguém mandar matar testemunha (*), policial, procurador ou juiz". 

relação indecente/parceria criminosa entre Delcídio do Amaral e André Esteves faz lembrar a de guerrilheiros desvirtuados com narcotraficantes na Colômbia. Comprova que, quando são abandonados os princípios éticos e as bandeiras ideológicas, a degringola não tem fim.

Ou, talvez, tenha: pode ser que termine no tanque de merda ao qual, com a finesse que lhe é inerente, referiu-se o indigitado senador Jader Barbalho.

Trata-se do habitat natural dos personagens desses escândalos que infestam a política oficial, agora sem distinção nenhuma entre petistas e não petistas, todos enfiados até o pescoço nos excrementos.
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* talvez esta forma mais simples de eliminarem o risco Cerveró só não tenha sido cogitada por temor de um novo caso Celso Daniel.

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terça-feira, 24 de novembro de 2015

OS CARNICEIROS DO ESTADO ISLÂMICO MATAM PORQUE GOSTAM DE MATAR

Meus leitores habituais já sabem que tenho ojeriza profunda aos fanáticos religiosos que exumaram e exacerbaram o terrorismo clássico. Vale a pena explicar os motivos.

Ao contrário de considerável parcela dos articulistas ditos de esquerda, li muito Marx, Engels, Lênin e Trotsky nos meus anos de formação política. E aprendi que a abolição do capital e o fim da sociedade de classes seriam o coroamento da marcha civilizatória, o final de uma longa caminhada das trevas para as luzes, do tacão da necessidade para a plenitude da liberdade.

Então, como os autores citados, só posso considerar patética a tentativa de fazer o relógio da História retroceder à Idade Média, quando os pastores de cabras aceitavam que a idiotia religiosa regesse cada esfera da vida social e da moral individual, e acreditavam que dizimar infiéis lhes abriria as portas do paraíso. 

Desde o aiatolá Khomeini, sou totalmente contrário ao oportunismo da má parte da esquerda que, trocando o marxismo pela geopolítica, alinha-se com os inimigos da civilização, apenas porque, circunstancialmente, estão na contramão de EUA, Israel, França ou qualquer outro vilão da vez. É simplesmente aberrante a esquerda, filha do iluminismo, dar as mãos a quem quer anular o iluminismo e todas as suas consequências!

Também me irrita profundamente a forma como os terroristas de Alá ajudam a indústria cultural a incutir no cidadão comum a paranoia face aos diferentes. Num momento em que o capitalismo putrefato o expõe aos piores rigores econômicos e à vingança da natureza, a existência de um bicho papão é mais do que conveniente para quem pretende mantê-lo submisso e conformado, encarando as catástrofes climáticas como fatalidades, a desigualdade como ordem natural das coisas e a polícia como protetora, suportando sem chiar as  agruras nossas de cada dia.

O que a indústria cultural insidiosamente incute nos seus públicos, martelando sem parar? A sensação de que tudo vai bem na vidinha de todos até que surge qualquer ameaça externa, como assassinos seriais, zumbis ou... terroristas. Os papalvos devem prezar a normalidade e temer unicamente aquilo que a quebre. É onde se encaixa, como uma luva, a bestial matança perpetrada pelo Estado Islâmico na 6ª feira 13. 

Desconheço autoproclamados inimigos do sistema mais convenientes para o dito cujo do que os carniceiros de Alá. O ataque pirotécnico da Al Qaeda ao WTC deu pretexto a uma longa e terrível temporada internacional de estupro dos direitos humanos, da qual finalmente estávamos emergindo quando o EI entrou em cena para fornecer novos e valiosos trunfos propagandísticos para os trogloditas da direita. Se depender dos jihadistas, a guerra ao terror nunca acabará.

Por último, os verdugos de Alá, com seus atentados covardes contra civis e suas repugnantes execuções de prisioneiros, agridem de tal forma a sensibilidade dos cidadãos equilibrados que facilitam a disseminação de preconceitos contra qualquer forma de resistência armada a governos totalitários. 

A direita deita e rola nesse clima de rancor cego, que propicia a satanização dos combatentes que, em situação de extrema inferioridade de forças, desafiaram heroicamente o terrorismo de estado nos anos de chumbo; propiciou a satanização de Cesare Battisti, mediante a afixação de um rótulo que nem sequer fora utilizado no momento dos acontecimentos (a Justiça italiana não o acusou nem condenara como terrorista). Serve para tentar socar-nos goela adentro uma lei que permitirá enquadrar as mais inofensivas formas de protesto como crimes gravíssimos.

Sou veterano de uma organização armada que erigia como inimigos apenas os torturadores, assassinos e dirigentes da ditadura militar, fazendo tudo para evitar que civis e os inconscientes úteis apanhassem as sobras dos confrontos. Preferíamos sacrificarmo-nos do que sacrificar os inocentes. Então, é chocante ao extremo para mim constatar a falta de um mínimo resquício de humanidade, de compaixão, de empatia com outros seres humanos, nesses autômatos de Alá. 

Mandar bala em jovens que alegremente socializavam num boteco é coisa de nazista, de psicopata! Para tentar compreender personalidades tão monstruosas, só mesmo uma abordagem psicanalítica como a do escritor português João Pereira Coutinho (vide íntegra aqui), com a qual encerro esta divagação: 
"...quando olho para o rosto dos terroristas, o que vejo é a felicidade da matança. Eles não matam apenas por uma religião (que mal estudaram) ou por razões geopolíticas (que nem sequer entendem). 
Eles matam porque gostam de matar. Como dizia Ernst Jünger, eles estão tomados pela 'vermelha embriaguez do sangue'. 
...o que me interessa no relato [de Jünger em seu livro A Guerra como Experiência Interior] é a dimensão de êxtase que o combatente sente na batalha. A sociedade pode refrear 'a pulsão dos apetites e dos desejos', escreve ele (como escreveu Freud). Mas a parte bestial do ser humano não pode ser abolida da nossa natureza.
Somos feitos de razão e sentimento. Mas também de fúria e instinto. E, quando provamos a loucura da guerra, emergimos como 'o primeiro homem', o homem das cavernas. 
...embalados pelo conforto da paz, somos incapazes de entender, muito menos aceitar, a felicidade dos terroristas. A felicidade de homens como nós que provaram e gostaram do sangue. E que exatamente por isso querem mais e mais e mais –até que a morte nos separe"
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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

RUI FALCÃO TENTA FORÇAR SUA SAÍDA DO PT: ZÉ DIRCEU É VÍTIMA DA HIPOCRISIA.

Com o título de Dirceu é pressionado por Rui Falcão a sair do PT, mas diz que ninguém o tira, a colunista social Mônica Bergamo publicou a seguinte nota na Folha de S. Paulo desta 4ª feira, 11:
"A situação de José Dirceu no PT chegou a um impasse. O presidente do partido, Rui Falcão, diz abertamente a vários interlocutores que o ex-ministro deveria se desfiliar da legenda. Fundador da agremiação, Dirceu recebe os recados. E responde: do PT ele não sai, do PT ninguém o tira. 
USO PESSOAL 
Falcão, que chegou a ser explícito em uma entrevista à Folha ao afirmar que se 'ocorrer' uma condenação Dirceu deve se desfiliar do partido, tem dito que o fato de as acusações estarem ligadas a desvio de dinheiro para uso pessoal torna a situação do ex-ministro insustentável".
Detesto ver um ser humano com passado ilustre em desgraça, abandonado pelos seus. Mantive-me reticente com relação ao Zé Dirceu durante o processo do mensalão porque a rede chapa branca insistia em proclamar sua inocência e inocente eu sabia que ele não era. Então, preferi calar.

Mas, quando se evidenciou que ele estava sendo degradado pelo PT, manifestei minha estranheza num artigo que continuo considerando totalmente válido, este aqui. 

E agora ocorreu-me ter deixado de abordar um aspecto importante da questão, então o farei em seguida.

Se o Zé ora é tratado como a Geni da canção célebre do Chico Buarque, isto se deve à constatação de que desviou dinheiro para seu bolso --além dos cofres do partido, como outros fizeram. Aqueles continuam recebendo solidariedade e desagravos, enquanto a ele querem ver o mais longe possível.

Ora, isto não passa de uma deturpação da postura adotada amplamente pelas organizações de esquerda no século passado: considerávamos aceitável tomar dinheiro dos grandes capitalistas para promover a revolução, o que não podíamos era lesar os assalariados, os pequenos e médios empreendedores, nem o Estado, pois seria apropriarmo-nos dos impostos pagos pelo povo.

O PT parece estar mantendo uma parte deste pacote e descartando outras. Apossou-se de recursos que deveriam estar sendo aplicados pelo Estado em benefício da população e o fez não para aplicar na revolução, mas sim para permanecer mais tempo no poder, com seus governos que podem, quanto muito, ser qualificados de reformistas (aqueles que apenas introduzem pequenas melhoras no capitalismo, tendo desistido de extirparem a exploração do homem pelo homem).

Há muito tempo deixou de lado as bandeiras anticapitalistas e, neste ano da desgraça de 2015, chegou ao cúmulo de aderir ao neoliberalismo como tábua de salvação, após ter gerado uma gravíssima crise econômica para a qual parece não encontrar uma saída pela esquerda. 

Se na hora do aperto vale socorrer-se com o receituário do Milton Friedman, por que o PT passou tanto tempo execrando suas teses? E no que Dilma Rousseff se diferencia afinal, de Margaret Thatcher, Ronald Reagan e Augusto Pinochet, três que poderiam igualmente alegar terem recorrido ao neoliberalismo por falta de solução melhor? 

Finalmente: o que nós, revolucionários, tradicionalmente aceitávamos como justificável era a expropriação da grana da burguesia para utilizá-la na revolução. Algo bem diferente de esquerdistas beneficiarem-se de uma associação ilícita  (vantajosa para os dois lados) com máfias empresariais sem estarem encaminhando revolução nenhuma.

E, se o butim não ia diretamente para os seus bolsos, servia para sustentar o projeto de poder do PT, do qual também auferiam vantagens pessoais. A diferença me parece ser apenas entre a sutileza e a falta de.