Fui ativista estudantil (1967/68). Militante clandestino (1969/70). Preso político (1970/71). Tenho travado o bom combate, lutando por um Brasil mais justo, defendendo os direitos humanos, combatendo o autoritarismo.

Sou jornalista desde 1972. Crítico de música e de cinema. Cronista. Poeta. Escritor. Blogueiro.

Tentei e não consegui eleger-me vereador em São Paulo. Mas, orgulho-me de ter feito uma campanha fiel aos objetivos nortearam toda a minha vida adulta: a construção de uma sociedade igualitária e livre, tendo como prioridades máximas o bem comum e a felicidade dos seres humanos.

Em que a exploração do homem pelo homem seja substituída pela cooperação solidária do homem com os outros homens. Em que sejam finalmente concretizados os ideais mais generosos e nobres que a humanidade vem acalentando através dos tempos: justiça social e liberdade.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

UMA MISSÃO QUE ASSUMO: TRAVAR A LUTA IDEOLÓGICA CONTRA A DIREITA

A falácia direitista: satanizar o Foro de São Paulo, tentando fazer crer
que se tratasse de uma ação concertada para revolucionar o continente
Uma particularidade da internet é que os textos ficam sendo acessados muito tempo depois de escritos, quando os fios da meada já não são mais evidentes, dando ensejo a equívocos e distorções.

Isto, p. ex., ajuda a extrema-direita a disseminar sua propaganda enganosa sobre os acontecimentos históricos e difamatória/caluniosa contra os personagens que resistiram ao arbítrio neste país.


Sites como o Ternuma, Mídia Sem Máscara e
A Verdade Sufocada são verdadeiras fábricas de artigos falaciosos, geralmente recheados com informações teoricamente sigilosas dos centros de tortura -- material que os antigos torturadores surrupiaram dos arquivos oficiais antes que a legalidade fosse restabelecida no Brasil.

Gerada nas tribunas ultradireitistas, tal gosma fedorenta se irradia por toda a internet, veiculada por correntes de e-mails e postada pelos discípulos reacionários numa infinidade de espaços virtuais.


Essa máquina de propaganda goebbeliana é tão eficiente que consegue obscurecer até a verdade sobre acontecimentos recentes, como a polêmica por mim travada com um dos principais porta-vozes da extrema-direita, Olavo de Carvalho, em 2007.


É comum eu encontrar na web comentários de fascistinhas repetindo as afirmações do primeiro artigo de OC contra mim (tão desatinadas que tiveram o efeito de um bumerangue para seu mestre) e ignorando todo o resto: minhas três intervenções e as outras duas de OC.


Aliás, ele se saiu tão mal no debate que, depois de espalhar seu primeiro ataque contra mim em todas as direções, ficou tão assustado com o contragolpe que passou a sustentar a polêmica apenas no espaço que tinha, ou tem, no
Diário do Comércio.

Nem no próprio site publicou mais suas intervenções, visivelmente empenhado em diminuir a repercussão do confronto que lhe era amplamente desfavorável.


Então, para deixar disponível um registro do que realmente ocorreu, estou colando aqui todos os textos da polêmica. O segundo deles, por sinal, não aparece mais nem mesmo nas buscas virtuais (ou na do Diário do Comércio, que o publicou).


Creio ter sido um marco importante, num momento de forte atuação dos reacionários na web, quando eles tentavam fixar a imagem de que seriam superiores a nós na argumentação.


Desde o primeiro momento, vi nessa refrega a possibilidade de provar, mais uma vez, que nenhum reacionário, possua quantos títulos acadêmicos possuir, é páreo para um militante revolucionário bem formado da minha geração.


A polêmica começou quando fiz a seguinte referência a Olavo de Carvalho, em meu artigo Goebbels inspira direita e esquerda na internet, de 27/09/2007:

"...Na falta de coisa melhor, os sites fascistas hoje alardeiam a periculosidade do Foro de São Paulo, por eles apresentado como a 'organização revolucionária que está influenciando de maneira decisiva os destinos políticos da América Latina, em especial a América do Sul'.

(...) Olavo de Carvalho, misto de (péssimo) jornalista, (eficiente) propagandista e (pretenso) filósofo, descreve o Foro de São Paulo de forma tão delirante que parece Ian Fleming introduzindo a Spectre numa novela de James Bond
".
Eis a íntegra dos seis artigos da polêmica, travada ao longo de três semanas, no final de 2007:

OLAVO DE CARVALHO
INUTILIDADE CONFESSA
(24/10/2007)

Celso Lungaretti, que entrou para os anais da História Universal como prefeito de Pariquera-Açu, SP, demonstrou sua lealdade à esquerda revolucionária indo à TV delatar seus companheiros de ideologia durante o regime militar. Agora ele prova sua fidelidade aos princípios da democracia e da livre expressão exigindo o fechamento judicial dos sites conservadores na internet.

Isso é que é inteireza de caráter.

Aproveita a ocasião para classificar o jornal eletrônico Mídia Sem Máscara entre “os sites financiados por facções políticas”, mas, como não informa qual é a facção, o jornal continua sem meios de acesso ao tal financiamento, que espero seja substantivo e duradouro. Se o misterioso subsídio não aparecer logo, vou cobrá-lo do próprio Lungaretti, que como dono da Geração Editorial, editora da primorosa “História Crítica” de Mário Schmidt, tem prosperado muito no ramo da propaganda comunista, a indústria mais pujante deste país.

Que um sujeito se arrependa, depois se arrependa de ter-se arrependido, e por fim se arrependa de ambas as coisas, faz parte da miséria usual da humanidade. O que diferencia Lungaretti é que seus arrependimentos sempre o colocam a favor do lado mais vantajoso no momento, primeiro como serviçal da direita militar e agora como delator de direitistas. Por isso mesmo, ele não está de todo errado ao posar de superior a todas as ideologias. No fundo ele não serve a nenhuma: serve-se delas e nunca sai perdendo.

Com similar idoneidade, ele classifica de ficção conspiratória a minha afirmação de que os partidos membros do Foro de São Paulo dominam atualmente os governos de vários países da América Latina. Fique pois o leitor sabendo que os partidos de Lula, Kirschner, Chávez, Morales e tutti quanti não governam nada ou então não pertencem ao Foro de São Paulo, embora eles próprios digam o contrário em ambos os casos.

Normalmente, o que quer que um tipo como Lungaretti diga ou faça é inócuo como um pum de mosquito, mas, como a nota foi publicada no site do prof. Roberto Romano, que tem mais de três leitores, um deles me enviou uma cópia da coisinha, perguntando o que acho dela. Não acho nada, apenas noto que o prof. Romano, quanto mais apanha de comunistas, mais solicitamente os lisonjeia, rebaixando-se ao ponto de se fazer de megafone para o ex-prefeito de Pariqüera-Açu. É o que normalmente se chamaria de fim de carreira, mas, no caso, parece ser apenas o preço de um emprego na Unicamp. Ou talvez acumulação de méritos para uma vaga no Senado.

CELSO LUNGARETTI
O SAMBA DO OLAVO DOIDO
(30/10/2007)

Em 1968, o grande Sérgio Porto não suportava mais os sambas-enredos sobre figuras históricas, que passaram a predominar a partir da turistização do carnaval carioca. Tratava-se de uma opção esperta para se agradar aos gringos e evitar atritos com a ditadura, mas que resultou catastrófica do ponto-de-vista artístico: os episódios eram narrados de forma simplista, oficialesca e, muitas vezes, equivocada.

A resposta de Sérgio Porto foi o genial
Samba do Crioulo Doido, que, dizia a introdução, “tinha sido criado” por um compositor de escola-de-samba cuja cuca fundira de tanto lidar com os eventos da História, levando-o a fazer uma salada de épocas, fatos e personagens:
“Joaquim José,/ que também é/ da Silva Xavier,/ queria ser dono do mundo/ e se elegeu Pedro II./ Das estradas de Minas,/ seguiu para São Paulo/ e falou com Anchieta./ O vigário dos índios/ aliou-se a D. Pedro/ e acabou com a falseta./ Da união deles dois/ ficou resolvida a questão/ e foi proclamada a escravidão...”
Olavo de Carvalho, que se apresenta como “jornalista, ensaísta e professor de filosofia”, também compõe seus sambas do crioulo doido. E o pior é que não se trata de sátira: ele acredita nas bobagens que escreve.

Assim, pretendendo me agredir (artigo “Inutilidade Confessa”,
Diário do Comércio, 24/10/2007), ele já começa viajando na maionese: “Celso Lungaretti, que entrou para os anais da História Universal como prefeito de Pariquera-Açu, SP...”

Repetindo a mesma ladainha num programa radiofônico, ele deixou ainda mais evidenciado seu desprezo por esse município, ao acrescentar que sua população se limitava a três pessoas: eu, meu pai e minha mãe.

Mas, da mesma forma que o Tiradentes nunca falou com Anchieta, eu também jamais fui prefeito de Pariquera-Açu ou de qualquer outra cidade. Nunca disputei eleições para o Executivo ou o Legislativo. Sou paulistano e – com exceção do período em que participei da resistência à ditadura militar – sempre residi na Capital.

Parece que o rigor factual anda meio ausente das aulas do professor OC.

O festival de besteiras não pára

OC, em seguida, se refere a mim como “dono da Geração Editorial”. E diz que eu tenho “prosperado muito no ramo da propaganda comunista, a indústria mais pujante deste país”.

Uma passada de olhos pelo site da Geração seria suficiente para ele ficar sabendo que o dono da editora é o respeitado jornalista e escritor Fernando Emediato. E que eu sou apenas um entre dezenas de autores que compõem o cast da Geração.

Será que as aulas de filosofia de OC incluem o ensino da responsabilidade ética? Dificilmente. Afinal, ele me acusa de infidelidade aos princípios da democracia e da livre-expressão por exigir o fechamento judicial “dos sites conservadores na internet”.

E qual foi, realmente, minha proposta? “Reunir provas dos delitos que estão sendo cometidos (exortação à rebelião contra os Poderes da Nação, calúnia e difamação, principalmente), encaminhando-as às autoridades (a equipe que o Ministério Público Federal criou para combater os crimes virtuais ou, nas cidades menores, a Polícia Federal), à imprensa e às entidades de defesa dos direitos humanos”.

Ou seja, defendi e defendo a tomada de providências judiciais contra os sites extremistas de direita (não os meramente conservadores) que estejam pregando a derrubada do governo constitucionalmente eleito ou cometendo os crimes de calúnia e difamação, entre outros.

O que há de errado em pedir que as autoridades apurem crimes virtuais? O que as pregações golpistas e o uso de mentiras para satanizar-se cidadãos respeitáveis têm a ver com a democracia e a liberdade de expressão?

Moscou contra 007 ou O rato que ruge?

O principal motivo desse tiro que OC tentou dar em mim (e saiu pela culatra) foi a crítica que eu fiz, no meu artigo Goebbels Inspira Direita e Esquerda na Internet, à seguinte afirmação dele, OC, referindo-se ao Foro de São Paulo, em artigo de 15/01/2007: “...a entidade que já domina os governos de nove países não admite, não suporta, não tolera que parcela alguma de poder, por mais mínima que seja, esteja fora de suas mãos… o Foro de São Paulo, com a aprovação risonha do nosso partido governante, reivindica o poder ditatorial sobre todo o continente”.

Eu esclareci que o Foro se trata “apenas de um encontro bianual de partidos políticos e organizações sociais contrárias às políticas neoliberais”. E comentei que OC, com suas teorias conspiratórias, mais parecia “Ian Fleming introduzindo a Spectre numa novela de James Bond”.

A isso responde agora OC: “Fique pois o leitor sabendo que os partidos de Lula, Kirschner, Chávez, Morales e tutti quanti não governam nada ou então não pertencem ao Foro de São Paulo, embora eles próprios digam o contrário em ambos os casos”.


Qualquer cidadão sensato percebe quão delirante é a hipótese de que Brasil e Argentina, juntamente com cinco nações não especificadas, a Venezuela e a Bolívia, participem de uma tramóia para implantar ditaduras de esquerda em todo o continente americano (o que incluiria os Estados Unidos).

Quem crê ou tenta fazer os outros crerem que o populismo autoritário de Chávez determinará o destino de grandes nações como o Brasil e a Argentina, já foi além até das fantasias de 007. Isso está mais para
O Rato Que Ruge, aquela ótima comédia com Peter Sellers...

Como o rigor geográfico também passa longe do pomposo professor de filosofia, ficamos sem saber exatamente quais os países em risco de se tornarem ditaduras. Mas, com toda certeza, a verdadeira ameaça é representada por quem já transformou a América Latina numa constelação de ditaduras e generalizou a prática de assassinatos e torturas nas décadas de 1960 e 1970: os companheiros de ideais de OC.

 
Grosserias e baixo calão: a linguagem dos becos

De resto, ele também nada tem a ensinar em termos de comportamento. No texto escrito, diz que “o que quer que um tipo como Lungaretti diga ou faça é inócuo como um pum de mosquito”. No falado, apela para grosserias ainda mais explícitas e palavras de baixo calão, atingindo inclusive minha mãe octogenária. A isso darei a resposta cabível de um homem civilizado, não a dos becos em que se originaram o nazismo e o fascismo.

Como não reconheço a mínima autoridade moral de OC para julgar meu comportamento, não perderei muito tempo com seus devaneios sobre episódios já esclarecidos.

Acusa-me de oportunista por, após 65 dias de incomunicabilidade e torturas, logo depois de sofrer uma lesão permanente e sob ameaça de morte, haver aceitado participar de uma farsa de arrependimento forçado, articulada pela Inteligência do Exército.

Quem pode avaliar uma atitude tomada em situação tão extrema são os outros combatentes, que também assumiram o risco de enfrentar a tirania, apesar da enorme disparidade de forças. Os iguais podem me julgar. Os carrascos, seus defensores e seus discípulos, não.

OC falta novamente com a verdade ao dizer que mudei de posição agora, por ser mais vantajoso para mim. Desde a primeira vez que fui procurado pela imprensa – entrevista concedida à
IstoÉ em 1978 – sempre relatei as torturas sofridas e as circunstâncias dramáticas em que se deu aquele episódio.

Reiterei isso, na década seguinte, em entrevistas ao jornal
Zero Hora e à revista Veja. E voltei a falar sobre as torturas durante a polêmica com Marcelo Paiva, em 1994. Além de haver travado uma luta dramática para salvar da morte quatro militantes que faziam greve de fome em 1986.

Felizmente, minhas palavras e atitudes estão registradas de diversas formas, tornando inócuas essas tentativas de desmerecer uma vida inteira dedicada à defesa da liberdade e da justiça social. Os leitores poderão facilmente encontrar elementos para decidirem de que lado está a verdade.

Finalizando: o samba do crioulo doido de OC toma ao pé da letra uma afirmação que o saudoso Lalau fez como blague. Quer que seja proclamada a escravidão e voltemos todos a viver debaixo das botas. Mas, o amadurecimento do povo brasileiro é bem maior do que supõe sua vã filosofia.

Ditaduras – todas as ditaduras – foram para a lata de lixo da História. E dela não sairão, por mais que suas viúvas esperneiem.


OLAVO DE CARVALHO
BELLA ROBBA
(07/11/2007)

Lungaretti esbraveja, rasga as vestes, bate no peito, e acaba por confirmar tudo.

Em nota publicada no seu blog (http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com), Celso Lungaretti afirma que cometi gravíssimo deslize ético: disse que ele foi prefeito de Pariquera-Açu. Que os caros leitores me desculpem. Errei mesmo. Lungaretti não foi nem isso. Também não é diretor da Geração Editorial, como imaginei que fosse; é apenas, como ele mesmo diz, membro do cast dessa editora. Quanto ao conteúdo essencial do meu artigo, Lungaretti esbraveja, rasga as vestes, bate no peito, e acaba por confirmar tudo: no tempo da ditadura, foi à TV denunciar seus companheiros de esquerda, e agora, sob um governo de esquerda, pede ação policial contra os sites liberais e conservadores.

As desculpas que ele apresenta para a sua conduta nessas duas ocasiões são tão comoventes quanto previsíveis: tortura, no primeiro caso; zelo pelas liberdades, no segundo. Acredite quem quiser. Só por uma curiosidade, lembro ao leitor que os soldados americanos da Guerra da Coréia, que apareceram na TV comunista fazendo discursos contra a “agressão imperialista”, foram induzidos a isso mediante intermináveis sessões de lavagem cerebral. Os casos estão documentados no livro do próprio médico que tratou desses prisioneiros depois de libertados (William Sargant, The Battle for the Mind, Penguin Books, 1961).


Lungaretti, segundo ele mesmo conta, mal saiu da prisão e na primeira entrevista já começou a falar grosso contra a ditadura que supostamente o havia persuadido a fazer aquilo que os demais torturados, submetidos a idêntico tratamento, não puderam ser induzidos a fazer. Se tudo isso é de uma incongruência psicológica patética, a explicação que Lungaretti oferece para o seu apelo à perseguição judicial dos direitistas é tão cínica que não precisa ser respondida: o ex-renegado e agora queridinho da esquerda diz que não quer fazer o mal aos conservadores em geral, mas só àqueles que “pregam a rebelião contra os poderes da Nação”.

Em vez de responder, pergunto: se é certo, justo e moralmente elevado pedir castigo judicial para supostos pregadores de rebeliões virtuais, que é que pode ter havido de tão errado em denunciar uma rebelião armada já em marcha, ao ponto de Lungaretti, para justificar essa denúncia, precisar alegar que só a fez mediante tortura? E o sujeito ainda acha que cabeça confusa é a minha! Quanto ao que ele diz do Foro de São Paulo, que é uma trama inverossímil, devo recordar, como autor de livros de lógica, que fatos documentalmente comprovados, reiterados até pela confissão direta de seu personagem principal, não têm satisfações a prestar ao critério de verossimilhança, o qual, por definição, é um mero julgamento de aparências, útil apenas quando não se tem acesso aos fatos.

CELSO LUNGARETTI
BELLA CIAO
(12/11/2007
)

Ao intitular de “Bella Robba” (Diário do Comércio, 07/11/2007) sua tentativa de resposta ao meu artigo “O Samba do Olavo Doido”, Olavo de Carvalho faz uma óbvia e grosseira alusão à minha ascendência italiana.

Não é de estranhar-se, pois OC não perde ocasião de manifestar seu desprezo pelos
seres inferiores, como os brasileiros que residem nos pequenos municípios interioranos. Talvez os italianos também não mereçam o apreço do filósofo campineiro que se radicou na Virgínia, EUA, para sentir-se entre iguais.

Eu, pelo contrário, orgulho-me não só de ser herdeiro da tradição humanística dos povos latinos, como também (e muito!) de haver seguido os passos dos partisans que enfrentaram o nazi-fascismo. Bella por bella, fico com “Bella Ciao”, a canção-símbolo da Resistência italiana.

Mas, minhas raízes também estão neste sofrido Brasil, em que os Lungarettis lutam contra as injustiças praticamente desde sua chegada, na imigração italiana: meu antepassado Angelo não hesitou em balear o irmão do presidente da República Campos Salles para defender a honra da família contra os desmandos dos barões da terra.

Meus iguais são as vítimas do capitalismo – no Brasil, em primeiro lugar. OC foi em busca dos seus na Meca do capitalismo. Questão de gosto... ou de caráter.

OC pede desculpas aos leitores por suas afirmações estapafúrdias anteriores, de que eu seria ex-prefeito de Pariquera-Açu e atual dono da Geração Editorial. No primeiro caso, diz que “Lungaretti não foi nem isso”, como se eu devesse me considerar uma nulidade por ter
apenas lutado aos 17 anos contra uma ditadura sanguinária e, depois, feito uma honesta carreira de jornalista, ao mesmo tempo em que continuava a defender os ideais de liberdade e justiça social.

No essencial, ele novamente tergiversa e calunia, pois são as opções que restam a quem defende o indefensável.
 

O espantalho inverossímil 

Esta polêmica começou quando toquei num calo dolorido dos profissionais do anticomunismo. Em 1964 eles usaram a “conspiração comunista internacional” como bicho-papão para assustarem a classe média e conseguirem êxito em sua segunda tentativa de usurpação do poder, depois que a resistência legalista fez abortar o golpe de 1961.

Não há espantalho igualmente apropriado nos dias de hoje. Então, para suprir a lacuna, eles tiveram de satanizar uma inexpressiva reunião de partidos e organizações de esquerda da América Latina, o Foro de São Paulo, apresentando-a como uma sinistra articulação para, nas palavras de OC, reivindicar “o poder ditatorial sobre todo o continente”.

Ou seja, Chávez e Morales estariam em vias de hastear a bandeira bolivariana em Wall Street, privando OC da segunda pátria que é a primeira no seu coração...

Evidentemente, eu só poderia comparar um disparate desses a fantasias cinematográficas como
Moscou Contra 007 e O Rato Que Ruge.

Cônscio do ridículo, OC refugia-se agora na autoridade acadêmica: “Devo recordar, como autor de livros de lógica, que fatos documentalmente comprovados, reiterados até pela confissão direta de seu personagem principal, não têm satisfações a prestar ao critério de verossimilhança, o qual, por definição, é um mero julgamento de aparências, útil apenas quando não se tem acesso aos fatos”.

Leiam e releiam! Nada que eu pudesse dizer seria mais ruinoso para a reputação intelectual de OC do que ter apelado para essa embromação doutoral, subestimando a inteligência de quantos tomariam conhecimento do seu artigo. Para os vigaristas saírem-se bem, é preciso que existam otários. Eu não sou. Quem acompanha polêmicas políticas, também não. Então, noves fora, acaba sobrando apenas... um malandro-otário.

Onde está a comprovação documental de que Brasil e Argentina, as nações com peso decisivo na América do Sul, estejam sendo teleguiadas pelo Foro de São Paulo, em vez de perseguirem seus próprios objetivos geopolíticos? Em lugar nenhum, claro!


Os saraus da esquerda sempre produziram um blablablá triunfalista que nada tem a ver com a correlação real de forças. Aí vem um OC da vida, pinça meia-dúzia de arroubos retóricos, junta com uma interpretação distorcida dos fatos e sai trombeteando que o continente americano inteiro está a caminho de se tornar uma constelação de ditaduras esquerdistas.

Se tivesse um mínimo de honestidade intelectual, ele esclareceria que existem apenas alguns candidatos a caudilhos com projetos populistas-autoritários de perpetuação no poder, sem ruptura real com o capitalismo. Nem de longe a perspectiva de novos regimes castristas; quanto muito, tentativas de bisar o PRI mexicano.

Mas, claro, nunca se pode esperar sinceridade dos manipuladores políticos. E menos ainda daqueles que servem de gurus para os medíocres e ressentidos, fornecendo-lhes explicações simplistas para seus fracassos cotidianos. “A culpa é do Governo Lula!” “O Governo Lula é de esquerda!” “Então, a culpa é da esquerda!”

Embora se pavoneie como autoridade em lógica, OC só parece ter verdadeira afinidade com os sofismas.
Propaganda enganosa – Em sua cruzada contra a verossimilhança, OC volta a bater na tecla de que eu teria pedido “ação policial contra os sites liberais e conservadores”. Como se o cidadão de um país democrático não tivesse o direito de requerer o cumprimento das leis que coíbem crimes como incitação à rebelião, difamação e calúnia.

E como se os sites extremistas de direita – jamais citei qualquer outro além do
Ternuma, do Mídia Sem Máscara, do Usina de Letras e do A Verdade Sufocada – fossem apenas “liberais e conservadores” e “supostos pregadores de rebeliões virtuais”, segundo afirma OC.

O Brasil padeceu 36 anos, no século passado, sob duas intermináveis ditaduras. Isto já é motivo suficiente para não sermos condescendentes com o Grupo Guararapes, integrado por oficiais aposentados das Forças Armadas que passam a vida incitando seus colegas da ativa a sublevarem-se contra ministros e presidentes, por meio de manifestos bombásticos que trazem exclamações do tipo “a honra ou a morte!”; ou com o tal Partido Vergonha na Cara, que exige “militares no poder já!”.

Se permanecessem como sociedades secretas, endereçando suas mensagens apenas a outros fanáticos, não estariam infringindo a lei. O caso muda de figura quando recorrem à comunicação de massa (Internet). E o acesso à Web lhes é propiciado exatamente pelos quatro sites da direita radical, veículos de propagação de suas exortações golpistas.

Além disso, tais sites mantêm permanentemente no ar centenas de artigos de propaganda enganosa, para denegrir os movimentos de resistência à ditadura militar de 1964/85 e seus participantes.

Trata-se de uma mistura infame de mentiras, meias-verdades e interpretação distorcida dos fatos, bem ao estilo do guru OC. E têm como matéria-prima os Inquéritos Policiais-Militares da ditadura, ou seja, informações arrancadas de seres humanos mediante torturas terríveis, a ponto de muitos (como Vladimir Herzog) terem morrido durante os interrogatórios.

Na Europa, um historiador que ousou negar a existência do Holocausto foi condenado à prisão. Algo deveria ser feito pelo Estado brasileiro para impedir que abutres continuem revirando o lixo ensangüentado da ditadura brasileira, no afã de caluniarem vivos e mortos. Por respeito à lei e por dever de gratidão para com aqueles que sacrificaram tudo em nome da liberdade.
 

Pontapé na virilha 

Finalmente, o filósofo OC não tem pejo de recorrer aos golpes baixos: “Lungaretti, segundo ele mesmo conta, mal saiu da prisão e na primeira entrevista já começou a falar grosso contra a ditadura que supostamente o havia persuadido a fazer aquilo que os demais torturados, submetidos a idêntico tratamento, não puderam ser induzidos a fazer”.

Ou seja, mal saí da prisão em 1971 e já em 1978 comecei a falar grosso contra a ditadura que me havia persuadido a fazer aquilo que mais de 30 companheiros também foram induzidos a fazer.

Sintomaticamente, OC comete ato falho e deixa aflorar a verdade dos fatos, ao admitir que fui submetido “a idêntico tratamento” dos “demais torturados”.

Desde a Santa Inquisição se vem comprovando que há limites para a resistência do ser humano à tortura prolongada. Alguns dos revolucionários mais ilustres do seu tempo foram reduzidos à condição de confessar absurdos e balbuciar lamúrias nos julgamentos stalinistas.

Então, ninguém jamais conseguirá intimidar-me ao evocar aquele episódio em que, já sem forças para reagir depois de dois meses e meio de maus tratos, tendo sido mantido incomunicável à mercê dos carrascos muito mais do que os 30 dias que as próprias leis de exceção facultavam, com o tímpano recém-estourado ainda gotejando pus e sangue, manchas roxas no rosto e o corpo esquelético como o dos sobreviventes dos campos de concentração nazistas, fui conduzido a uma TV de madrugada e, sob ameaça de ser torturado até à morte, recomendei aos jovens que não ingressassem numa guerra já perdida.

O que OC supõe servir-lhe de defesa é a mais veemente acusação da desumanidade que ele defende no passado e tenta reviver no presente.

OLAVO DE CARVALHO
BELLA ROBA, O RETORNO
(16/11/2007)

Ao comentar a resposta inócua dada pelo sr. Celso Lungaretti às minhas observações sobre o seu sucesso na carreira do arrependimento lucrativo, qualifiquei-a com a velha expressão Bella roba (bela coisa), de uso corrente no Cambuci da minha infância, para designar um nada que pretendesse ser alguma coisa.

Não tendo algo mais substantivo de que se queixar, Lungaretti optou por torcer o sentido das minhas palavras até o extremo limite da sua mania de perseguição, fingindo interpretá-las como alusão pejorativa às suas origens itálicas, como se fosse muito natural a um humilde portuga como eu olhar desde cima a nação de Dante, Leonardo, Michelangelo, Vico e Manzoni.

Dessa premissa manifestamente psicótica o referido foi tirando aquelas conclusões que os senhores podem imaginar, das quais emergi com as feições estereotipadas do quatrocentão racista – adequadíssimas a um neto de imigrantes e pai de filhos mulatos!! -, ampliadas por sua vez às dimensões de um virtual assassino em massa de seres inferiores, entre os quais, pobrezinho, o Lungaretti.

Depois de fazer da sua vida uma dupla palhaçada, o cidadão só pode mesmo encontrar refúgio na autovitimização teatral.

Mas desta vez, confesso, o sujeito foi tão longe no fingimento histriônico, que me tocou o coração. Senti-lhe o drama. O mal que ele faz a si mesmo é tão profundo, tão irreparável, que eu jamais lhe negaria o consolo derradeiro de lançar a culpa nos outros, mesmo que um deles seja eu.

Pode dizer de mim o que quiser, Lungaretti. Prometo não voltar a falar mal de você. Pode até dizer que fugi da raia. Não ligo não. Não faço questão de mostrar valentia onde ela é desnecessária e inconveniente.

Uma vez até saí correndo de um enfezado cãozinho Yorkshire para não carregar na consciência o pecado de dar um pontapé em criatura tão indefesa.

CELSO LUNGARETTI
 ENTRADA DE LEÃO,
SAÍDA DE CÃO...
(16/11/2007)


No dia 16/11/2007, o "Diário do Comércio" publicou a intervenção final de Olavo de Carvalho em sua polêmica comigo ( http://www.dcomercio.com.br/noticias_online/938750.htm ).

Inapelavelmente derrotado nos três focos principais da discussão (o Foro de São Paulo, os sites fascistas e as acusações levianas que fez ao meu comportamento como preso político), OC bateu em retirada, limitando-se a negar que tenha preconceito contra italianos e a fazer análises psicológicas irrelevantes, pois não possui credenciais acadêmicas nem morais para tanto.

Já que OC gosta tanto de expressões em desuso, há uma ótima para encerrar este debate: "entrada de leão, saída de cão".

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